A viagem de Chihiro, por Luísa Anabuki

A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi ou, em inglês, Spirited Away) é uma obra japonesa, dirigida por Hayao Miyazaki (Studio Ghibli), que ficou famosa mundialmente após ganhar o Oscar de Melhor Animação, em 2003. A história apresenta uma família composta por pai, mãe e uma filha de 10 anos, Chihiro, que, de mudança, percorre cidades do interior do Japão. 

Durante a viagem, o pai erra o caminho, atravessa um túnel e acaba desviando para um povoado, que parecia abandonado. Lá havia um restaurante com comidas à disposição. Curiosa, Chihiro sai para conhecer o lugar e seus pais optam por lanchar ali mesmo. Já ao anoitecer, a cidade passa a ser ocupada por diversos espíritos, o que assusta a criança, que busca seus pais. Nesse momento, ela descobre que eles foram transformados em porcos e, para sobreviver, começa a trabalhar em uma casa de banhos.

O filme, por apresentar momentos, personagens e cenas de muito simbolismo, é associado a diversas possíveis críticas sociais, como o choque entre gerações e o apego à tradição; a poluição e degradação ambiental, o consumismo e luxo; as discriminações e, até mesmo, a situação do Japão no pós-guerra. Outra crítica que pode ser extraída é sobre a realização do trabalho infantil. 

Chihiro, com apenas 10 anos, se vê obrigada a trabalhar, num local sujeito a diversos perigos, desde o contato com clientes desconhecidos e estranhos, a sujeira da atividade, o abuso psicológico pela dona da casa e os riscos de acidente (quedas, queimaduras).  Um dos momentos de maior tensão acontece quando Chihiro recusa moedas de ouro de um dos personagens (Sem Rosto), o que nos remete às assustadoras estatísticas de meninas abusadas e exploradas sexualmente quando precocemente levadas por mercado de trabalho.

Esses e outros são os perigos e riscos comuns a toda criança ou adolescente forçado a trabalhar fora das idades constitucional e legalmente previstas ou mesmo em atividades especialmente deletérias (piores formas de trabalho infantil). 

Uma das alegorias mais impactantes e que se relaciona diretamente com o trabalho infantil é a da forma de contratação de Chihiro. Para que possa ser admitida na casa de banhos, ela tem que assinar um contrato e perder seu nome, adotando um novo (Sen) e, paulatinamente, esquecendo o seu. Outra criança que trabalha na casa (Haku) já não pode deixar o trabalho porque não se lembra de seu próprio nome. O que nos faz lembrar que o direito ao trabalho e à profissionalização só podem ser exercidos nas idades e nas atividades corretas e adequadas, sob o risco de representarem uma perda na história e identidade daquela criança ou adolescente irreparável.

Além das diversas reflexões que provoca, Viagem de Chihiro tem uma trilha sonora impecável, traçado lindo, universo encantador e vale a pena para todos as idades. 

Data de lançamento 2001 (2h 05min)

Direção: Hayao Miyazaki

Elenco: Rumi Hiiragi, Miyu Irino, Mari Natsuki mais

Gêneros Animação, Aventura

Nacionalidade Japão

* Luísa Anabuki é Procuradora do Trabalho e curadora da filmoteca do trabalho

27 de novembro de 2019

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