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Entregadores na Coreia do Sul morrem por excesso de trabalho

A pandemia de Covid-19 alterou profundamente o panorama do comércio em todo o mundo. Sob ordens de ficar em casa, muitos consumidores têm optado pelo comércio eletrônico, o que aumentou a carga de trabalho dos entregadores. Na Coreia do Sul, onde o volume de entregas subiu 30% desde o início da pandemia, esta carga está se mostrando fatal: muitos entregadores estão morrendo de “gwarosa”, o termo sul-coreano para o excesso de trabalho.

Só no primeiro semestre deste ano foram nove, segundo dados da Agência Coreana para Saúde e Segurança Ocupacional. Mas segundo outros entregadores, o total é ainda maior: 15. Alguns morreram após reclamar de jornadas insuportáveis, que os colocavam nas ruas desde o amanhecer até depois da meia-noite.

Um destes entregadores, segundo o The New York Times, era Kim Dong-hee, de 36 anos. Em 7 de outubro ele retornou para casa às 2 da manhã. Horas mais tarde ele voltou ao depósito para pegar 420 pacotes, e ainda tinha muitas entregas a fazer quando mandou uma mensagem para um colega às 4h28 do dia seguinte. Ele disse que estaria em casa às 5h00, mas que mal teria tempo de comer e tomar um banho antes de sair novamente. “Estou cansado demais”, escreveu.

Quatro dias depois, ele não apareceu no trabalho. Quando colegas foram até sua casa verificar, e o encontraram morto. Segundo a polícia, o motivo foi uma parada cardíaca. Os colegas dizem que ele foi mais uma vítima do excesso de trabalho. No mesmo dia outro entregador desmaiou em sua rota, reclamando de dores no peito e dificuldade de respirar antes de morrer.

A maioria das entregas na Coreia do Sul é feita por grandes empresas de logística, que subcontratam entregadores que cobrem uma determinada área, usando veículos próprios. Estes entregadores recebem por comissão, de acordo com a velocidade das entregas e o número de pacotes.

A comissão pode ser de apenas R$ 3 a R$ 4 por pacote. Além do valor baixo eles são penalizados por atrasos, o que aumenta a pressão em um momento em que empresas prometem entregas “no mesmo dia” ou “rápida como uma bala”.

Entregadores não são cobertos por uma lei de 2018 assinada pelo presidente Moon Jae-in, que reduziu a jornada máxima semanal de 68 para 52 horas. Classificados como trabalhadores autônomos, os cerca de 54 mil entregadores do país também não são cobertos por leis trabalhistas que garantem benefícios como o pagamento de horas extras, férias e seguro contra acidentes de trabalho.

De acordo com o Centro para Segurança e Saúde dos trabalhadores, grupo que defende os direitos trabalhistas, o entregador médio na Coreia do Sul trabalha 12 horas por dia, seis dias por semana. E de acordo com dados do governo, o número de ferimentos e acidentes de trabalho subiu 43% no primeiro semestre deste ano.

Por estes motivos, os entregadores sul-coreanos estão se sindicalizando e organizando greves, numa tentativa de conseguir menos horas e trabalho e “uma vida com noites livres”. “Nos organizamos e lutamos porque não tínhamos ninguém com quem dialogar”, disse Park Ki-ryeon, de 36 anos, que é entregador desde 2016. “Também queremos ficar aquecidos dentro de casa, como as pessoas a quem servimos”

Fonte: The New York Times – Por: Rafael Rigues – Olhar Digital

16 de dezembro de 2020

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