Os trabalhadores terceirizados cumprem uma jornada maior de trabalho, contam com menos estabilidade e têm um sentimento de serem descartáveis, como se fosse uma ferramenta, aponta pesquisa realizada pela Santo Caos, consultoria especializada em engajamento.
A palavra “descarte” foi uma das mais citadas durante as entrevistas que resultaram no estudo, que também constatou que 59% dos terceirizados não gostam de trabalhar dessa forma e dizem que é melhor atuar por conta própria.
Outra citação recorrente foi a “invisibilidade”. Segundo a pesquisa, o terceiro se sente invisível, pois não é inserido em ritos da empresa que o contratou, não recebe avaliações regulares sobre o seu trabalho, a não ser as críticas. Neste contexto, o trabalhador terceirizado não se sente reconhecido.
Com isso, o terceiro enxerga a empresa para a qual presta serviços de uma forma distante e negativa, ao mesmo tempo em que vê a companhia com gratidão por lhe assegurar um emprego, mesmo sentindo discriminação e a sensação de descarte.
Exemplo disso é que 64% dos terceirizados falam para amigos e familiares que trabalham na empresa. Já quem é contratado diretamente pela empresa tem a percepção de que não vale a pena terceirizar porque o terceiro tem uma pior gestão e, por isso, é menos engajado.
Quem são os trabalhadores terceirizados no Brasil?
- “Quase Próprio” (34%)
Esse perfil é o trabalhador mais jovem (entre 25 e 31 anos) e exerce função administrativa.
Na maioria são homens que estão na primeira experiência de trabalho e atuam há um ou dois anos como terceirizado.
O “Quase Próprio” nem se define como terceiro, se considera próprio (contratado diretamente pela empresa) e diz o nome da companhia como sua identificação. Seu sentimento é de entusiasmo e enxerga a terceirização como uma questão de conjuntura socioeconômica potencializada pela atual crise no país.
- “Expert” (18%)
Os trabalhadores com esse perfil têm função de especialista, a maioria é mulher e tem entre 32 e 38 anos.
Já teve algumas experiências em clientes diferentes e tem até um ano como terceiro, embora esse profissional não se identifique como um terceiro, mas como um consultor especializado.
Na prática, ele se vê como uma ferramenta de uma área e que os colegas contratados pela empresa são os que levam os créditos do trabalho, portanto, seu sentimento é o de ressentimento.
Assim como o “Quase Próprio”, também entende que ser terceiro, neste momento, é algo conjuntural.
- “Sr. Conforto” (12%)
Esse perfil de profissional é um adulto maduro (38 a 52 anos), homem, operacional, tendo passado a maior parte da carreira como terceirizado ou já está como terceirizado há um tempo considerável e obteve certo destaque.
Ele entende que, para sua função, a única opção é ser terceirizado e está confortável com isso. Seu sentimento é de satisfação.
- “Por um Tempo” (20%)
Esse perfil atua nas funções administrativas ou como especialista e tem entre 39 e 45 anos, sendo, em sua maioria, mulheres. Após alguns processos seletivos frustrados, o medo pesou.
Na sua visão a terceirização é algo temporário, seu desejo para o futuro é ser dono do próprio destino, seja empreendendo, seja mudando de área, logo, seu sentimento é o de medo.
- “Paga Boleto” (16%)
Esse profissional tem perfil mais operacional, com gênero misto (18 a 24 anos e 46 a 59 anos), e relatou que outras opções nem foram consideradas, pois não enxerga como poderia ser diferente.
Tem entre um a cinco anos de contrato, diz o nome da prestadora de serviço como sua identificação e considera que “a vida é esta: pagar boleto, ir vivendo dia a dia”.
Esse tipo de terceirizado só pensa nessas obrigações, independentemente do tipo de contrato de trabalho, enxerga que será inferiorizado, portanto, tem um sentimento de inferioridade.
Por Weruska Goeking, Valor Investe
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