A informalidade tem puxado o aumento da população ocupada no país, segundo dados do IBGE. São 38,8 milhões de informais, com empregos sem registro em carteira nem CNPJ, o equivalente a 41% do total de ocupados (93,8 milhões), ou seja, 4 a cada 10 trabalhadores. E, ao contrário do que muitos candidatos a emprego pensam, a experiência no trabalho informal deve ser colocada no currículo e citada na entrevista de emprego.
De acordo com a especialista em RH e fundadora do site Admirável Emprego Novo, Renata Felix, muitos profissionais passam a fazer bicos, sem nenhum vínculo empregatício, até conseguirem se recolocar dentro de suas áreas ou conseguirem novamente um emprego com carteira assinada.
“Esse tipo de oportunidade salva muita gente do aperto. Mas quem está em uma situação de informalidade e quer maior estabilidade deve continuar procurando emprego enquanto trabalha. É o mesmo caso de quem já está empregado e quer trocar de empresa ou de cargo”, diz.
Segundo ela, o trabalhador informal tem a vantagem de estar sempre circulando e tendo a oportunidade de fazer contatos. “Seria um desperdício não aproveitar isso para construir um networking de sucesso”, comenta.
De acordo com a consultora, ter bons contatos é uma excelente maneira de conseguir uma indicação. “Seus contatos podem ter informações valiosas, como vagas que não estão sendo divulgadas ou empresas que você ainda não conhece que estão contratando na sua área”, explica.
Currículo
O candidato não deve pensar que seu currículo terá um “buraco” enquanto não tinha carteira assinada. Para Renata, esse profissional deve mostrar em seu currículo as atividades exercidas, pois ele não ficou parado. “Até os melhores profissionais do mercado se afastam da formalidade por um tempo, por diferentes razões. Recrutadores não discriminam candidatos por isso”, garante.
Segundo Renata, todo mundo tem o direito de dar uma pausa na carreira formal, seja qual for o motivo. “O que realmente prejudica o currículo é não ter nenhuma estratégia para mostrar o potencial e as competências”, afirma.
Para a especialista, o que o candidato fez durante o período longe da CLT pode ser a luz que vai destacar as competências aos olhos dos recrutadores.
“Se você fez trabalho autônomo, se atuou com vendas, se passou um tempo estudando para concursos, se tirou um tempo para ficar com os filhos e muitas outras situações. Tudo isso é muito positivo se você souber como mostrar que essas atividades fizeram de você um profissional melhor”, garante.
Renata explica que quem passa um tempo atuando por conta própria tem muitas chances de melhora em organização, otimização do tempo, gestão financeira e resolução de problemas. Se o trabalho informal envolveu lidar com pessoas, essa competência também pode ter sido fortalecida.
Paulo Exel, diretor de operação da consultoria de recrutamento e seleção Yoctoo, indica citar o trabalho informal no currículo, quando possível, como “freelance”.
Segundo ele, aos olhos de um recrutador, o importante é analisar as responsabilidades, realizações e consistência das passagens profissionais, independentemente se elas foram informais, por tempo determinado ou permanentes. O ideal é resumir listando as principais responsabilidades de cada cargo, e principalmente quais foram as entregas em cada um deles.
Para profissionais em início de carreira, ele enxerga como positivo o detalhamento de experiências anteriores, independente se ela for fora da área de atuação pretendida. Já no caso de profissionais com mais experiência, ele indica fazer uma reflexão das atividades que mais se relacionam com a área de atuação ou cargo pretendido. Para ele, deixar esses elementos em evidência é primordial na hora de redigir um currículo.
“Recrutadores recebem um volume muito grande de material diariamente e que essas informações direcionadas podem ser decisivas no critério entre seguir ou não com um candidato para uma próxima etapa”, afirma Exel.
Entrevista
Na entrevista, o candidato deve mostrar ao recrutador que está pronto para recomeçar, indica Renata.
“Durante a conversa, fale sobre como você já se organizou para retornar a um trabalho formal. Pode falar ainda que essa oportunidade lhe dá uma motivação extra para voltar à rotina com tudo e trabalhar pelos resultados que a empresa busca. Esse tipo de atitude mostra o quão disposto e interessado você está. E é exatamente isso que faz brilhar os olhos de qualquer recrutador”, recomenda.
Para Exel, as empresas buscam cada vez mais contratar pela experiência e habilidades comportamentais de cada candidato, independentemente do vínculo empregatício dessas experiências. “Caso um recrutador pergunte a modalidade da contratação durante determinado período, não vejo problemas em falar a verdade. Dar o contexto do momento de vida e o porquê de encarar o desafio pode soar muito mais positivo do que simplesmente focar na modalidade de contratação”, afirma.
O diretor da Yoctoo salienta que a preparação antes da entrevista é fundamental e pode ser um diferencial perante outros candidatos. Ele indica resgatar aspectos que estejam relacionados às atribuições da vaga pretendida. “Vivemos em um contexto de fácil acesso à informação, o que ajuda a entender o que determinada empresa mais valoriza em aspectos comportamentais. Assim, será mais simples fazer a conexão entre as atividades desempenhadas e habilidades aprimoradas do candidato com o que é esperado para a posição.”
O candidato pode ainda destacar o aprendizado que teve durante o período se concentrando nas principais responsabilidades e desafios que foram encarados e os resultados obtidos, finaliza Exel.
Fonte: G1 – Por: Marta Cavallini
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